Salesforce reduz aposta em grandes modelos de linguagem após problemas de confiabilidade
A Salesforce, uma das maiores empresas de software corporativo do mundo, anunciou um recuo na implementação agressiva de grandes modelos de linguagem (LLMs) após enfrentar falhas de confiabilidade. A empresa agora busca alternativas mais estáveis para seus produtos e reconhece limitações técnicas desses modelos em tarefas corporativas mais complexas.
Sanjna Parulekar, vice‑presidente sênior de marketing de produtos, admitiu que o otimismo em relação à IA diminuiu: "Todos nós estávamos mais confiantes sobre grandes modelos de linguagem há um ano", disse a executiva. O reposicionamento estratégico impacta diretamente o Agentforce, a principal aposta recente da Salesforce em IA, que vinha sendo promovido como uma plataforma de agentes capazes de executar tarefas complexas de forma autônoma. A nova direção prevê menor dependência de respostas abertas geradas por LLMs.
Entre os problemas citados está o chamado AI drift — ou deriva da IA. Phil Mui explicou que agentes baseados em modelos de linguagem tendem a perder o foco quando confrontados com interações humanas fora do fluxo esperado. Um exemplo frequente envolve chatbots projetados para auxiliar no preenchimento de formulários: ao receberem perguntas irrelevantes dos usuários, esses sistemas se distraem e a eficiência do fluxo de trabalho corporativo diminui.
As chamadas "alucinações" dos modelos também pesaram na decisão. O CEO Marc Benioff afirmou que está reescrevendo a estratégia anual da empresa e que a nova diretriz prioriza fundações de dados em detrimento dos modelos de IA isolados. Na visão de Benioff, operar esses sistemas sem o contexto adequado aumenta drasticamente o risco de erros; no ambiente corporativo, inventar informações incorretas com alta confiança é inaceitável.
Apesar das preocupações técnicas, Benioff manteve ambição em relação ao produto: sugeriu que não se surpreenderia se a própria empresa viesse a adotar o nome Agentforce. Ao mesmo tempo, a recalibragem ocorre num momento de tensão na força de trabalho: a Salesforce demitiu cerca de 4 mil funcionários, em sua maioria da área de suporte, e parte desses serviços passou a ser atribuída a agentes de IA.
No mercado, a reação foi negativa: as ações da Salesforce caíram aproximadamente 34% desde o pico de dezembro de 2024, reflexo do ceticismo dos investidores sobre a capacidade da empresa de transformar o hype da IA em resultados consistentes. Ainda assim, a expectativa interna é que a plataforma Agentforce possa gerar mais de US$ 500 milhões em receita anual. Executivos da companhia admitem ter perdido um pouco da confiança inicial na IA generativa e agora reavaliam como integrá‑la de forma mais segura e eficaz.
