O primeiro balanço da Micron depois do encerramento abrupto da marca Crucial e da saída do mercado direto ao consumidor confirmou a nova aposta da companhia: abrir mão do volume do varejo em troca das margens muito maiores trazidas pela demanda por IA. Enquanto entusiastas de PC viram na morte da Crucial uma perda, investidores celebraram o crescimento de receita — próximo a 60% — que a empresa apresentou.
A Micron registrou receita de US$ 13,64 bilhões no primeiro trimestre fiscal de 2026 (período que começou no último trimestre de 2025), um aumento de 57% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Parte expressiva desse avanço vem do foco em memórias de alta largura de banda (HBM), essenciais para chips de inteligência artificial.
Esse reposicionamento, porém, tem um efeito colateral severo para o mercado de memória tradicional. O problema é físico: a produção de HBM consome muito mais recursos de fabricação do que a DRAM convencional. Segundo o CEO Sanjay Mehrotra, produzir um chip HBM demanda cerca de três vezes mais wafers de silício do que entregar a mesma capacidade em memória DDR5 padrão.
Com os wafers sendo desviados de forma agressiva para cumprir contratos de HBM — que oferecem margens de lucro substancialmente maiores — a oferta de memória padrão para PCs e outros mercados tem sido comprimida. A projeção oficial da Micron indica que, em 2026, a empresa conseguirá atender apenas entre metade e dois terços da demanda total do mercado por memória padrão.
Na prática, a estratégia criou uma “escassez programada”: ao priorizar produtos de alto valor agregado e de produção mais complexa, a Micron aceita vender menos unidades totais em troca de lucros muito superiores por unidade. Os resultados financeiros deixam claro que a companhia pretende abandonar a guerra por preço no varejo e se posicionar como fornecedora premium, especialmente para data centers.
A Micron é uma das maiores produtoras mundiais de chips para SSD e memória RAM, e essa mudança de foco deve redesenhar a dinâmica de oferta e preços no segmento de memórias nos próximos trimestres.
