Único elétrico do mercado brasileiro abaixo dos R$ 100 mil em 2025, o Renault Kwid E-Tech surge como uma opção atraente para quem quer entrar no universo dos carros “verdes” sem gastar muito.
O compacto traz motor elétrico de 65 cv e 11,52 kgf·m de torque, com 0 a 100 km/h em 14,6 segundos — números que não impressionam na aceleração pura, mas suficientes para uso urbano e ultrapassagens moderadas. Para 2026 a Renault renovou o visual do hatch, alinhando-o ao Dacia Spring europeu, e ampliou o nível de equipamentos em relação à versão que chegou ao Brasil.
A equipe do CT Auto passou um mês com o E-Kwid (como a Renault o chama) e listou pontos positivos e oportunidades de melhoria. Entre os destaques estão design, tecnologia embarcada e praticidade para o dia a dia; entre as limitações, autonomia e estabilidade em rodovias.
Como se comporta na estrada?
A experiência do mês foi majoritariamente urbana, mas incluiu duas viagens entre São Paulo e Jundiaí, que ajudaram a testar a fama de que elétricos de entrada “não servem” para estrada. A bateria tem 26,8 kWh e o Inmetro declara autonomia de 180 km por ciclo, mas os testes práticos trouxeram números mais otimistas.
Em um dos deslocamentos, o carro saiu com carga completa da Vila Madalena e, após 64,3 km, chegou a Jundiaí com 74% de bateria — ou seja, consumiu 26% naquele trajeto. Fazendo uma conta simples por regra de três, isso indica autonomia prática de cerca de 247,3 km por ciclo, superior ao valor declarado pelo Inmetro.
Dirigibilidade e dinâmica
No dia a dia o motor de 65 cv não decepciona: a resposta imediata do elétrico favorece a cidade e até confere agilidade contra alguns veículos a combustão. Em estrada, o conjunto mecânico mostrou-se suficiente para deslocamentos curtos, sem grandes sustos.
O ponto fraco é a estabilidade em maiores velocidades. Com apenas 969 kg, o Kwid E-Tech tende a “balançar” mais em rodovias, o que pode transmitir sensação de insegurança a motoristas menos experientes. Ressalte-se, porém, que o projeto prioriza uso urbano — onde o hatch se saiu muito bem diante de equivalentes a combustão, como o Kwid flex.
Tecnologia e assistências
Apesar de ser o elétrico mais acessível do país, o E-Kwid não economiza em recursos: alerta de colisão frontal, assistente de manutenção de faixa, reconhecimento de placas, limitador de velocidade com controle de cruzeiro, frenagem regenerativa, modo ECO, câmera de ré, controle eletrônico de estabilidade, monitoramento de pressão dos pneus, abertura elétrica do porta-malas e espelhamento de celular compõem um pacote robusto. O sensor de fadiga, apesar de útil, mostrou-se excessivamente sensível nos testes, mandando alertas mesmo com as mãos corretamente posicionadas — algo que pode ser ajustado por calibração.
Quanto custa recarregar?
No período de teste foram rodados 864 km e realizadas três cargas completas e uma parcial (50%). Em Jundiaí, o kWh custou R$ 1,40, resultando em gasto total de aproximadamente R$ 131,32 com energia elétrica ao longo do mês.
Para comparar, encher o tanque do Kwid a combustão (capacidade de 38 litros) com gasolina a R$ 6,50 por litro custaria cerca de R$ 247. Considerando que o Kwid a gasolina roda cerca de 581 km por tanque, seria preciso pelo menos meio tanque extra (aprox. R$ 123,50) para cobrir os mais de 800 km percorridos no teste — o que mostra vantagem econômica para a versão elétrica no uso praticado.
Conclusão: vale a pena?
Após um mês de uso e duas viagens curtas, a avaliação é positiva: o Renault Kwid E-Tech, hoje cotado pouco acima dos R$ 99 mil, representa uma boa porta de entrada para quem busca um elétrico acessível. Apesar de pontos a melhorar — especialmente autonomia e estabilidade em rodovias — o hatch elétrico apresenta um pacote tecnológico e custos de uso que o tornam atraente frente ao Kwid a combustão. A versão Outsider a combustão custa hoje cerca de R$ 85,2 mil, mas não entrega a experiência elétrica que muitos consumidores procuram; os quase R$ 15 mil a mais pelo E-Tech tendem a ser justificáveis dependendo das prioridades do comprador.
A unidade utilizada nos testes foi cedida pela Renault do Brasil.